Sinceramente, estou na dúvida se o Conar se tornou mais poderoso, se ele tem ganhado mais divulgação ou se as pessoas estão reclamando mais de várias propagandas. O que sei é que, de uns tempos pra cá, é grande a quantidade de anúncios que têm sido censurados pelo público.
O caso mais recente - e mais divulgado agora - é o do Banco Itaú, cujo anúncio tem a palavra digitau (sic). Poderia ser uma sacada de mestre se o "itau" de "digitau" estivesse em cor diferente ou com alguma coisa que o diferenciasse, para mostrar que o neologismo era uma referência ao fato de o Itaú estar mais presente no ambiente digital. Ao contrário, a propaganda não faz essa diferenciação e ainda aparecem crianças no comercial, cantando que "é digitau com u", reforçando para outras crianças a ideia de que o jeito certo de escrever é daquele forma.
Em bom baianês, alguns pais caíram matando em cima do comercial. O Conar foi acionado e, desde então, quem é da área de Comunicação e está antenado em sites relacionados tem visto muito se falar sobre esse assunto.
Eu, como comunicadora, resolvi compartilhar no meu perfil pessoal do Facebook. Muitas curtidas e alguns comentários, sendo que o de duas pessoas me chamaram a atenção por proporem o mesmo raciocínio: a intencionalidade do erro.
Antigamente, ou melhor, há uns 10, 15, 20 anos atrás, era mais difícil para os comunicadores terem uma noção do público. Cartas dos leitores, pesquisas de opinião, telefonemas, mas os métodos de avaliação da recepção não eram muito práticos. A internet trouxe as redes sociais e o negócio é praticamente instantâneo: postou, já tem curtida e comentário segundos depois.
Sabe a frase "fale mal, mas fale de mim"? Acho que o pessoal da Publicidade tem levado isso ao pé da letra: a gente vê umas propagandas que são aberrações, de tanto mau gosto que tem e outras que geram tanta polêmica que você não acredita que alguém teve coragem de criar e divulgar aquilo. A questão é que meus colegas comunicadores dessa área gostam do burburinho. Gostam de ver a marca que eles divulgam na boca do povo, ainda que seja à base de vários xingamentos.
O que eu acho? Com toda a sinceridade, acho ridículo que as marcas queiram se aparecer - olha o baianês de novo - dessa forma grotesca só para se tornarem mais visíveis. Sinto falta de propagandas inteligentes, que me façam refletir, que me ensinem lições do dia-a-dia e não de algumas baboseiras que tenho visto. O grande desafio da Publicidade é comunicar de forma clara e concisa, sem ser muito simplório nem vulgar.
Eu gostava muito de ver um programa que passava no Multishow chamado Na Hora do Intervalo. Eles mostravam propagandas de vários países do mundo. Algumas eram bestinhas, mas tinha outras que eu viajava, achando o máximo a construção de algo legal e que comunicava a mensagem de forma eficaz.
Pegando um gancho do título, agora falo de outro aspecto. Para a galera que criou a propaganda que marca o retorno dos limões à Pepsi, o mundo tá chato. Mas será mesmo? O anúncio é uma crítica ao politicamente correto, ao fato de que, a depender do que você fale ou escreva, uma legião de pessoas irá te confrontar e até tomar medidas legais.
Vamos falar sobre racismo. O que dizer dos negros no Brasil? Um grupo historicamente escravizado, marginalizado, ridicularizado e que, até hoje, sofre com esse terrível legado?! O mundo não está chato se alguém reclama de racismo. Afinal de contas, graças a Deus, hoje as pessoas têm voz para gritar contra as opressões. E tem que falar, tem que mostrar sua voz. Tem que ter cotas, porque quem nasce e vive na periferia não teve as mesmas oportunidades de quem é classe A.
Falando nisso, a mais nova polêmica é a respeito da Reserva, a grife de Luciano Huck. Colocaram manequins de cabeça para baixo para mostrar que se trata de uma liquidação. O burburinho se deu porque os manequins são da cor preta. Racismo? Talvez não. Repercutiu negativamente - assim como a camisa "Somos Todos Macacos" ou a blusa infantil "Vem ni mim que tô facim" - vários comentários falando mal nas redes sociais e outros achando que era exagero, que o mundo tá chato, que agora tudo é racismo, e blá blá blá...
Talvez não tenha tido essa intenção, mas, sinceramente, acho que já passa da hora de os comunicadores - não apenas os da Publicidade, mas os de todas as áreas - refletirem sobre seus papéis sociais. Analisarem todas as implicações de uma comunicação, buscarem a ética, o respeito ao próximo. Usarem a inteligência, contribuírem de alguma forma com a educação. Afinal de contas, em uma país com tantos analfabetos reais e funcionais, escrever "digitau" significa mais do que apenas um trocadilho.
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