sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mais timidez

No post passado, falei sobre timidez, apresentei o significado presente em alguns dicionários e também minha opinião acerca do assunto, eu, uma tímida.

Hoje, senti vontade de retomar esse tema. Mas de uma forma diferente. Uma forma poética. Talvez isso se dê pelo fato de estar com vontade de escrever novamente alguns versinhos. Sim, acho que já comentei aqui no blog, eu escrevia poesias na época da escola, cheguei a fazer uma parceria com uma amiga e colega de turma. Mas os versos foram ficando para trás, até porque, francamente, prefiro prosa.

Mas, fiz um breve pesquisa sobre poemas e frases famosas acerca da timidez. O primeiro é bem interessante, pois fala sobre escrever também. Aí vai:

Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar, pelas dificuldades de encarar a verdade enquanto ardia, arvorava, arfava. Há muitos que ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. Nas cartas de amor, por exemplo, eu me declarava para quem gostava pelo papel, e não pela pele, ainda que o caderno seja pele de um figo. O figo, assim como a literatura, é descascado com as unhas, dispensando facas e canivetes. Não sei descascar laranjas e olhos com as unhas, e sim com os dentes. Com as mãos, sei descascar a boca do figo e o figo da boca, mais nada. Acreditei mesmo que escrever era uma fuga, pedra ignorada, silêncio espalhado, um subterfúgio, que não estava assumindo uma atitude e buscava me esconder, me retrair, me diminuir. Mas não. Escrever é queimar o papel de qualquer forma. Desde o princípio, foi a maior coragem, nunca uma desistência, nunca um recuo, e sim avanço e aceitação. Deixar de falar de si para falar como se fosse o outro. Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada, uma dependendo da próxima garfada para alongar a respiração. Baixa-se o rosto para levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida. (Fabrício Carpinejar, poeta)

"Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras distantes...
- palavras que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponhos vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão nevegando
nos ares certos do tempo
até não se sabe quando...
- e um dia me acabarei." (Cecilia Meireles, poetisa)

"A ignorância oscila entre a extrema ousadia e a extrema timidez." (Paul Valéry, escritor e poeta)

A timidez é uma condição alheia ao coração, uma categoria, uma dimensão que desemboca na solidão.
(Pablo Neruda, poeta)

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