segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Tão antigo, tão atual

Rio, 27 de dezembro de 1947


O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira


Mesmo escrita em 1947, esse poema de Manuel Bandeira é tão atual. É como se ele estivesse vendo uma cena hoje, muito comum nas nossas grandes cidades: Homens, mulheres, crianças procurando comida en grandes caixas de lixo. Além de comida, buscam também materiais recicláveis: garrafas plásticas ou de vidro, papéis, papelão... qualquer coisa que possa lhes render alguns trocados. Sinto a mesma sensação de contemporaneidade quando leio Vidas Secas, de Graciliano Ramos. A siutação do Nordeste em algumas áreas não mudou muito de 1938 - data de publicação do famoso livro - até 2008. Setenta anos depois, as coisas são tão [tristemente] semelhantes.

Nenhum comentário: