"Elizabeth pensou mais em Pemberley naquela noite do que na precedente. E embora as horas lhe parecessem difíceis de passar, não foram suficientes para que chegasse a uma conclusão acerca dos seus sentimentos. E ficou duas horas acordada, tentando ler em seu coração. Certamente não o odiava. Não, o ódio há muito se dissipara e há muito também se envergonhara de ter antipatizado com ele. O respeito que as suas valorosas qualidades lhe inspiravam, embora a princípio admitido com relutância, já há longo tempo cessara de ser repugnante para os seus sentimentos. Ele agora se transformava num sentimento mais cordial, graças aos testemunhos tão altamente a seu favor, e à impressão favorável, que Darcy lhe produzira na véspera. Mas, acima de tudo, acima do respeito e da estima, encontrava em si mesma um motivo de boa vontade que seria impossível desprezar: era a gratidão. Gratidão não somente porque a amara, mas porque ainda a amava bastante para esquecer toda a acrimônia e petulância com que ela o rejeitara e todas as acusações injustas com que acompanhara essa rejeição. Estivera persuadida de que Darcy a evitaria como a sua maior inimiga. E, no entanto, durante aquele encontro acidental, ele se mostrar ansioso por restabelecer as suas relações, sem qualquer exibição indelicada de sentimentos ou qualquer excentricidade de maneiras, no seu modo de tratá-la a sós. Procurava também a boa opinião dos amigos de Elizabeth, e insistira para apresentá-la à sua irmã. Uma tal mudança num homem tão orgulhoso, produzia não somente espanto, mas gratidão. Pois só podia ser atribuído ao amor, e um amor ardente. E a impressão que sobre ela esse amor produzia, não era de modo algum desagradável, embora não pudesse ser exatamente definível. Ela o respeitava e estimava; era-lhe grata, sentia um interesse real pelo seu bem-estar. E queria apenas saber até que ponto desejava que aquele bem-estar dependesse dela, e para felicidade de ambos, até que ponto deveriam empregar o poder que imaginava aidna possuir de fazer com que ele renovasse as suas atenções."
Trecho do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
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